CHAMADOS
Residência dos Peterson.
Lilian Peterson, uma garota não muito sociável, que leva uma vida escassa de novidades. Mas nem sempre foi assim, a jovem teve a vida alterada após a morte do pai, e comandante William Peterson, que era piloto de avião. Seu grande e único amigo. Por estar fora, viajando a trabalho, William viria para o aniversário de 15 anos de Lilian. Mas o avião que pilotava, caiu em decorrência de uma manutenção mal feita, acumulando desgaste com a estrutura da aeronave, que acabou cedendo, resultando em sua morte e de vários passageiros. Devido a gravidade do acidente, o funeral de William foi de caixão fechado, aumentando a dor da família por nem ter como se despedir de forma devida. Com o passar dos dias, Lilian vê sua mãe Emma Peterson, sofrendo muito com a perda do marido, abatida pelos cômodos. Tendo dificuldade para pagar sozinha as contas e despesas gerais da casa, que eram divididas com o seu cônjuge. Em meio aos problemas, aquela garota alegre e sorridente, se fechou para o mundo, e passou a ficar quase sempre reclusa no quarto, lendo ou escutando músicas na companhia de seu gato, apelidado por Cacau, por ter uma pelagem escura como a noite.
Em uma sexta-feira, após acordar e tomar café, Lilian ouviu uma voz lhe chamar da sala. Chegando lá, perguntou a mãe, o que ela precisava! Emma lhe respondeu.
— Nada filha, mais obrigada por perguntar — Lilian sem entender, explica.
— É que ouvi alguém me chamar! Mas tudo bem — Emma comenta.
— Curioso. Não te chamei minha filha — Lilian disfarça.
— Desculpe mãe, deve ter sido alguém na rua...
No decorrer da semana, Lilian voltou a ouvir a voz lhe chamar da sala. Chegando lá, viu sua mãe sentada no sofá com a tv. Ligada, ao se aproximar, percebeu que ela estava dormindo profundamente. Lilian perplexa, imediatamente voltou para o quarto, pegou o crucifixo e começou a rezar, até pegar no sono, hábito deixado de lado após a morte do Pai.
As vozes cessaram nos próximos dias. Lilian quase nem se lembrava mais do sinistro ocorrido, mas o sossego durou pouco.
Em uma madrugada fria de inverno, Lilian acordou com a voz suplicando do lado de fora.
— Abra a porta, saia aqui fora.
Imediatamente lembrou que noite passada sua avó ligou, e pediu para Emma ir passar uns dias com ela, pois não estava bem de saúde. Lembrou também que sua mãe sempre levava uma cópia da chave da porta de entrada ao sair. O chamado persistia, então Lilian saiu do quarto, foi até a porta da sala, e perguntou.
— Quem é você, e, porque me perturba?
Mas nada se ouvia. Após um respiro profundo, de cabeça baixa e com a mão trêmula, Lilian pegou na maçaneta e abriu a porta. Ao olhar para fora, não avistou ninguém, só neve e mais neve caindo pela rua, e a brisa tocando o seu rosto, adentrando nas narinas, sensação que não sentia a meses. Então Lilian ouviu um miado e, ao se virar, viu seu gato olhando para ela. Batendo os dentes, Lilian disse para o gato, vamos para o quarto Cacau, ou ficaremos resfriados! Chegando lá, pensativa se deitou. Minutos depois, Lilian notou que seu gato não retornou, então voltou à sala, e observou o gato estático, olhando para a rua, no mesmo espaço que estava antes. Lilian ficou assustada e um pouco confusa, pela porta estar aberta, pois tinha certeza que havia trancado com chave antes de ir se deitar. Lilian então pegou seu gato, fechou a porta e foram para o quarto. Logo cedo ao acordar, uma vontade súbita de sair ao ar livre tomou o coração de Lilian, então ela pegou um casaco, trancou a casa e saiu sem destino certo, levando Cacau. No meio do trajeto, em busca de respostas, Lilian parou, pegou o gato, e olhou fixamente nos seus olhos, tentando enxergar o que ele via através daquela porta, que o fez ficar lá parado por minutos, observando sem hesitar.


