CORDAS INVISÍVEIS

◇ Sinopse: Uma encomenda misteriosa chega a loja de Clara, um conselho antigo, não aceite coisas de estranhos.

Vilarejo de Grunewald

Naquele antigo vilarejo, havia uma loja de antiguidades, era um prédio estreito, espremido entre duas casas abandonadas. O letreiro estava apagado e enferrujado, e apenas os mais curiosos ousavam espiar pelas janelas empoeiradas.

Clara Ester, restauradora de artefatos antigos, cuidava da velha loja de antiguidades. Em certo dia, debruçada no balcão, quase pegando no sono devido à falta de clientes, Clara é desperta pela campainha. Ao abrir a porta, no tapete de entrada, havia uma pequena caixa, com uma carta em cima. Ela então pegou a carta, rompeu-se o selo e leu a seguinte mensagem: "Restaurar Marionete Franz, urgência absoluta." Pagamento adiantado. Não mexer na caixa até a meia-noite."

Intrigada, Clara aceitou a encomenda, fechou a loja e levou a caixa para casa. Mesmo pequena, a caixa era bem pesada, parecia que transportava chumbo no seu interior, era envolta em cordas de linho e selada com cera vermelha.

Respeitando os termos de seu cliente, ela esperou até meia-noite para ver o que tinha na caixa. Com mãos trêmulas, rompeu o lacre, abrindo a caixa. Na parte inferior da tampa, havia um bilhete colado com fita. Nele, um aviso escrito à mão: "Acorde apenas quando as sombras forem mais densas."

No interior da caixa, jazia uma marionete surpreendentemente realista, vestida com um fraque gasto, olhos vítreos que pareciam segui-la, presa a fios pretos, longos, que terminavam em pontas cortadas, ao lado de uma cruz.

Algo naquilo a deixava desconfortável. Ela percebeu que os fios não estavam presos a nada... e mesmo assim, a marionete se movia levemente. Um espasmo no braço, uma virada sutil da cabeça.

"Correntes de vento", tentou se convencer.

Nas noites seguintes, Clara passou a ouvir barulhos em casa — passos pequenos no assoalho, risadinhas abafadas, e o som de caixinha de música, que não lembrava ter em casa.

Determinada a terminar o trabalho e se livrar da marionete, Clara começou a restaurá-la. Costurou suas roupas, lustrou a madeira, colou uma rachadura no rosto. Mas ao tentar prender os fios de volta à cruz de controle, percebeu que eles resistiam, como se não quisessem ser amarrados.

Naquela noite, sonhou com uma criança amarrada por cordas, suspensa no ar, sendo manipulada por sombras atrás de um véu. A criança gritava: "Não é ele que é controlado." É você!"

Assustada, Clara tentou devolver a marionete. Mas não havia remetente, nem rastro de quem havia enviado.

Aos poucos, a pobre moça começou a agir diferente. Falava sozinha, com a voz mais aguda. Seus movimentos se tornaram bruscos, como se fossem puxados. Seus amigos a evitavam. Ela sentia como se fios invisíveis estivessem presos aos seus pulsos, tornozelos... e ao topo da cabeça.

Pela manhã, no espelho, viu algo horrível: seus olhos não a seguiam mais quando ela se movia. Estavam fixos. Como os da marionete.

Em uma noite de pesadelos intensos, movida por um sentimento de desespero, Clara lançou a marionete ao fogo da lareira, onde rapidamente foi consumida pelas chamas. No mesmo instante, Clara caiu ao chão, ação seguida por um grito de dor extrema. Ela se contorcia, como se estivesse queimando de dentro para fora. Ao tentar se levantar e apagar as chamas do seu corpo, Clara segurou na cortina da sala, alastrando o fogo rapidamente, até tomar conta de toda a casa.

Quando os bombeiros chegaram à casa e apagaram o fogo, todo o imóvel havia sido consumido pelas chamas, exceto uma marionete que foi vista em meio aos destroços. Nenhum corpo foi encontrado no local.

Semanas após o incêndio, em Grunewald, pela manhã. Emily Phillips, restauradora de antiguidades, ouve a campainha tocar em sua loja. Na porta havia uma caixa, junto a uma carta, que dizia: "Restaurar Marionete Clara, urgência absoluta." Pagamento adiantado. Não mexer na caixa até a meia-noite."